quarta-feira, 8 de abril de 2015

Eu sei

É uma mão que te estendo. Não tremas. Não um julgamento, e tão pouco um dedo.
Eu compreendo. Eu compreendo. As noites mal dormidas e os olhos pregados ao tecto. A esperança desmedida que te faz agarrar à vida quando o fim se encontra sempre tão perto.
A incerteza de que o dia de amanhã seja melhor. As dores de cabeça que conheces de cor.
Eu entendo. Os lençóis molhados apesar de não sermos crianças e talvez nunca o termos sido.
A força sobrenatural a puxar-te para baixo, quando tudo o que desejas é respirar, por breve que seja o instante. Os círculos repetidos. Aqueles que se esqueceu Dante.
Eu sei. Eu sei.
As preces. A ressoar baixinho. O sair do quarto aos tropeções, sem rumo, sem destino.
Como posso eu apontar-te o dedo? Ou voz de escárnio que seja?
Quando sei, e como sei, a força necessária para se enfrentar tudo com que cada passo dado nos presenteia?
Uma mão. Nunca o dedo a apontar a ferida.
Sei que te levantarás, apesar de tudo.
E conseguirás sorrir, e assim, trazer a Paz ansiada a um mundo.
E que as palavras de outrora sejam a verdade de hoje e sempre:

“ Se és capaz de dar, segundo por segundo, ao minuto fatal todo valor e brilho: tua é a Terra com tudo o que existe no mundo, e – o que ainda é muito mais:
Tu és um homem, meu filho! “
Santuário

Carlos Miguel Vieira
 ©2015

Excerto final do poema "SE", de Rudyard Kipling

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